Matilde era morena de olhos da cor do mar e cabelo negro da cor do carvão. Bonita. Bem
constituída. Solteira. Com um circulo de amizades imenso. Pensava ela. Pensava. Um dia
ela viu que as pessoas que pensava que eram suas amiga afinal não o eram.
Não a convidavam para nada. Não a
convidavam para festas de anos, para festas numa discoteca ou mesmo para um passeio. Nada. Ela sentia-se
cada vez mais só. Sem namorado e sem amigos. E chorava. Prometia para ela
própria que tinha de rever as suas amizades. Rever os erros cometidos no
passado. Lembrava-se de quando era convidada para tudo. 'Interesse.' Pensava ela. E tinha razão. Num momento de reflexão
aprendeu o que sempre soube. Só a convidavam por causa das boleias. Ou, se a
convidassem recentemente para uma festa era porque não havia carros suficientes
para toda a gente. E lá ia ela. Mais um soluço. Matilde não queria ver o que
estava à frente dos seus olhos mas, no fundo, sabia que era verdade. Sabia que
tudo não passava de uma questão de interesses. Chorava e chorava e chorava. Ninguém a
compreendia. Matilde aprendeu que, afinal, a amizade não existe. O que existe
são colegas. Colegas. E chorava novamente.