sábado, 26 de junho de 2010

Despertar

« O tempo passa. Mesmo quando tal parece impossivel. Mesmo quando cada tiquetaque do ponteiro dos segundos dói com o palpitar do sangue sob a ferida. Passa de forma irregular, em estranhos avanços e pausas que se arrastam. Mas, lá passar, passa. Até para mim.»

Excerto retirado do livro ''Lua Nova'' de Stephenie Meyer, saga ''luz e escuridão''

sábado, 19 de junho de 2010

O polvo

Ela, ela é uma mulher como tantas outras neste mundo tenebroso, onde existe sempre um polvo que com os seus tentáculos tentam agarrar tudo o que os outros possuem. Inveja, chama-se a isso inveja meus senhores e minhas senhoras. Mas, voltando a ela, ela foi vitima de um dos tentáculos desse polvo, quer dizer, ela deve ter sido vitima por todos os tentáculos do polvo.
Ela era feliz, tinha tudo o que precisava e, ironicamente ou não, tinha também encontrado o homem que a fazia feliz, tinha encontrado um amor que ela desconhecia, tinha escutado a voz que a chamava de mansinho durante as tantas e tantas noites em que ela, sem dar por isso, pensava nele. O amor por ele, não nasceu do dia para a noite, como muitos pensaram, antes pelo contrário, o seu subconsciente, tentava sempre dar-lhe sinais de que ela era apaixonada por ele, mas ela, estúpida não queria dar ouvidos ao seu subconsciente. Para ela, tudo não passavam de brincadeiras. Porém, numa noite, numa única noite, quando ela saiu com ele, ela viu que o seu subconsciente estava correcto, o coração dela batia velozmente, parecendo que queria saltar do seu peito para que este fosse ocupado pelo coração dele. E foi, durante algum tempo, ela teve o coração ou um pedacinho do coração dele, e ela ofereceu por completo o seu coração a ele.
Foi aqui que o polvo, que o/os tentáculo(s) do polvo entraram em acção. O que parecia um amor de verdade, transformou-se num amor fictício, num amor onde a palavra tristeza, onde a palavra mentira, entraram em acção. Porém ela não queria, por nada deste mundo, deixar de lutar, e corria, corria atrás das respostas para o que estava a acontecer, mas o que encontrava eram ainda mais perguntas. Ninguém a conseguia compreender, toda a gente dizia para ela desistir, até que ela, finalmente encontrou novamente o orgulho perdido e desistiu. Desistiu dele e… dela.
Ela agora, vive a ser feliz, quer dizer, tentando ser feliz. Porque quem tem a vida escrita num Pretérito Imperfeito nunca é feliz. Num pretérito imperfeito porque a vida passada dela está constituída apenas por verbos não de pretérito perfeito, mas de pretérito imperfeito.
O coração dela nunca chegou a voltar para o peito dela, no lugar dele, está um buraco profundo, onde a ferida não cicatriza porque sempre que ela pensa nele, o sangue jorra sob a ferida, deixando assim marcas profundas de tristeza e tormento.
E o polvo, esse continua a torturá-la com os tentáculos, porque mesmo sendo uma mulher incompleta, ainda existem pessoas a querer possuir tudo o que ainda lhe resta.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago 1922-20010





"Então ela, a morte, levantou-se, abriu a bolsa que tinha deixado na sala e retirou a carta de cor violeta. Olhou em redor como se estivesse à procura de um lugar onde a pudesse deixar, sobre o piano, metida entre as cordas do violoncelo, ou então no próprio quarto, debaixo da almofada em que a cabeça do homem descansava. Não o fez. Saiu para a cozinha, acendeu um fósforo, um fósforo humilde, ela que poderia desfazer o papel com o olhar, reduzi-lo a uma impalpável poeira, ela que poderia pegar-lhe fogo só com o contacto dos dedos, e era um simples fósforo, o fósforo comum, o fósforo de todos os dias, que fazia arder a carta da morte, essa que só a morte podia destruir. Não ficaram cinzas. A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu." Em: As Intermitências da Morte


E a literatura ficou, assim, mais pobres! Portugal, apesar de tudo, ficou mais pobre...

terça-feira, 15 de junho de 2010

O amor não tira férias

''Eu descobri que quase tudo que já escreveram sobre o Amor é verdade. Shakespeare disse: encontro de Amor é coisa finda. Ai que idéia fabulosa. Eu nunca vivenciei uma coisa remotamente parecida, embora acredite que Shakespeare possa ter feito isso. Eu acho que eu penso no amor mais do que qualquer um deveria. Fico sempre perplexa com o seu enorme poder de modificar e definir nossas vidas e foi Shakespeare quem disse - O amor é cego. Isso é uma coisa da qual eu tenho certeza.Para alguns de maneira inexplicável o amor começa a murchar, para outros o amor simplesmente se perde, por outro lado, claro, o amor também pode ser encontrado mesmo que apenas por uma noite. E há também outro tipo de amor, o tipo mais cruel aquele que quase mata suas vítimas, ele se chama - Amor não correspondido, eu sou especialista nele.A maioria das histórias de amor é sobre pessoas que se apaixonam umas pelas outras, mas e o restante de nós? As nossas histórias? Nós que nos apaixonamos sozinhos, somos vítimas de uma relação de mão única, somos a maldição dos apaixonados, somos os não amados, os deficientes sem direito a uma vaga exclusiva"

"O amor não tira férias", excerto inicial

sábado, 12 de junho de 2010

Consciência 1

« Depois diz que não foste avisada, qual a parte que não entendes que tens de o esquecer? Qual é a parte que não entendes que tudo o que passaram não passam de construções mal construidas que só levou metade do material do que devia? Sim, metade do material, porque tu eras a única que queria que desse certo, eras tu que depois de muitos projectos feitos por ti antes de adormeceres, depois de muita dor de cabeça a desenhar o projecto, querias que aquilo, a que chamavam relação, fosse construída! Eras tu o único arquitecto ao invés de serem os dois, eras tu que querias compreender o que se passava para que a construção não fosse para a frente, não ele. Lembras-te perfeitamente que ele fugia sempre que perguntavas o que se estava a passar com o vosso projecto que devia ser construído em conjunto!
Lembra-te, quem avisa teu amigo é, e eu sou tua amiga e conheço-te melhor que ninguém, nunca mais vais poder construir uma relação com ele, nunca mais vais poder arquitectar projectos com ele.
Parte para outra, ouve o que eu te digo, só assim serás feliz. E por favor, pára, pára de, todas as noites, antes de adormeceres, quereres enviar-lhe uma sms. Pára de te magoar a ti própria, pára de espetares sempre uma faca no teu próprio coração, porque não podes sonhar de novo, porque quanto mais andaimes subires, maior vai ser a tua própria queda. Pára de ser burra, estúpida e parva, ao pensar que a construção se pode reerguer.
E, lembra-te, conheço-te melhor que ninguém»

A minha consciência